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O caso Ever Given e os desafios do transporte marítimo

Eduardo Damião

Escrito por: Eduardo Damião - 19/04/2021

Quando um navio porta-contêineres como o Ever Given, cujo comprimento é comparável à altura do Empire State Building, encalha e bloqueia a passagem de mais de 400 navios no Canal de Suez, uma das principais hidrovias do mundo, é natural que todas as atenções e tensões se voltem ao fato, trazendo à tona discussões e cenários de riscos envolvendo o tráfego de grandes embarcações e as vulnerabilidades das cadeias globais de fornecimento.

O incidente ocorreu no final de março e, certamente, fica marcado na história da logística e transporte de cargas pelo mar, já que o Canal de Suez é a principal rota de movimentação de mercadorias entre a Europa e a Ásia, representando 12% do comércio marítimo global, 10% dos embarques de petróleo por via marítima e por onde passam cerca de US$ 400 milhões em carga a cada hora.

O desencalhe do Ever Given após seis dias permitiu a normalização do tráfego no canal e ainda deve render importantes negociações numa corrida pela mitigação de eventuais perdas. No entanto o objetivo aqui não é levantar causas e consequências, mas sim aproveitar um exemplo tão emblemático e recente para ilustrar os grandes riscos atrelados ao transporte marítimo, tema essencial para qualquer empresa que se utilize deste modal em suas operações logísticas.

Análise e transferência de riscos para evitar prejuízos

O transporte marítimo é o modal mais antigo e, também, o mais utilizado no comércio internacional, responsável por 80% do comércio global, em volume, e mais de 70%, em valor, segundo dados da Organização da Nações Unidas (ONU).

Em alto mar, as condições climáticas e possíveis danos ambientais estão no topo da lista de riscos que podem resultar em uma série de impactos. Mas é preciso analisar além. Um dos aspectos mais relevantes a se considerar diz respeito à responsabilidade em casos de incidentes.

Nestas situações, quem deve arcar com os prejuízos? Esta é uma reflexão crucial para adotar medidas de proteção adequadas, sabendo, por exemplo, que se o navio não é de sua empresa, mas está a serviço dela, você poderá ter responsabilidade por eventuais danos a terceiros.

Avaliar os riscos deste mercado complexo e repleto de particularidades requer conhecimento especializado, o que permitirá uma análise personalizada da exposição e a negociação qualificada com os mercados na contratação de coberturas, já que há diversas soluções em seguros para colaborar com a mitigação dos riscos.

Há desde seguros com cobertura para os riscos em transportes, como danos às embarcações (hull & machinery), riscos de perda ou danos na carga e ainda o seguro de P&I (protection & indemnity), oferecido normalmente por meio dos chamados clubes de P&I.

Como se vê, apesar da longa história do transporte, podemos dizer sem dúvida alguma que navegar não é tarefa simples e não é à toa que a origem dos seguros de transportes esteja relacionada ao desenvolvimento do comércio.

O caso Ever Given reforça uma lição importante: conhecer a fundo a cadeia de riscos a que sua empresa está exposta é essencial em qualquer operação. Quando falamos do modal marítimo, considerando-se a sua altíssima relevância para movimentação de mercadorias mundo afora, convém lembrar que entrar em alto mar sem conhecimento dos riscos atrelados ao ambiente marítimo é o mesmo que navegar de olhos vendados.

Em sua opinião, qual a lição aprendida com o case Ever Given? 

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