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Setembro Amarelo | Dê uma pausa para sua mente.

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Escrito por: Horiens - 01/09/2025

Setembro Amarelo: quando a coragem de pedir ajuda transforma uma história de dor em superação

Durante a pandemia da Covid-19, enquanto o mundo tentava se ajustar a um novo ritmo de vida, Maria S. (nome fictício)*, enfrentava silenciosamente um colapso interno. O que começou com longas jornadas de trabalho foi agravado pela ausência de vida social, até que ela sentiu o peso de uma exaustão que ia além do cansaço físico — era a síndrome de burnout, uma condição provocada pelo estresse crônico no trabalho e que mudou sua vida por completo.

No Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio e promoção da saúde mental, a história de Maria nos lembra que cuidar da mente é também uma forma de preservar o corpo e a vida.

A escalada silenciosa do esgotamento

Maria sempre foi considerada uma profissional exemplar. Determinada, perfeccionista, dedicada. Mas em 2020, quando o home office virou norma e a linha entre trabalho e descanso desapareceu, ela mergulhou em uma rotina exaustiva e solitária. Morando com a mãe, que era do grupo de risco, passou meses sem sair sequer para o mercado.

Trabalhava todos os dias até às 3h da madrugada, sem pausas. O sofá da sala era a extensão da sua mesa de trabalho. Com a saída de colegas da equipe e o congelamento das contratações diante da incerteza da pandemia, o volume de tarefas se multiplicou. Os primeiros sinais vieram em forma de taquicardias intensas — o coração disparava a 200 batidas por minuto, como se estivesse diante de um perigo iminente. Logo depois, surgiram os lapsos de memória que a deixavam paralisada no meio de reuniões, incapaz de lembrar o que estava dizendo.

“Eu desligava o computador alegando problemas na internet, para ninguém perceber”, confessa Maria, revelando o medo profundo de parecer frágil. Sua autocobrança, reforçada por um perfil que priorizava a perfeição e o controle, a impedia de pedir ajuda. Tentava se manter funcional adotando hábitos como meditação, yoga e uso de florais, mas não sentia melhora.

O ápice do burnout veio após a entrega de um projeto importante. “Eu perdi completamente a memória por 40 minutos. Não sabia quem era minha mãe, onde estava. Achei que estava tendo um AVC”, relembra.

Após o episódio, Maria viveu um agravamento progressivo. A depressão se instalou e os sintomas físicos e emocionais se intensificaram. Ela perdeu oito quilos em um mês, teve insônia severa, crises de pânico e, pela primeira vez, surgiram pensamentos suicidas. “A dor era tão grande que parecia a única saída”, confidencia. Ainda assim, levou um ano até buscar ajuda especializada. O preconceito com o uso de medicamentos e com o acompanhamento psiquiátrico postergou o início do tratamento.

O ponto de virada

Quando finalmente procurou uma psiquiatra, Maria entendeu que o burnout e a depressão não eram sinais de fraqueza, mas problemas reais que exigem cuidados específicos. O processo de recuperação foi lento e desafiador. Os ajustes de medicação duraram seis meses, período em que ela precisou de apoio constante para tarefas simples como tomar banho ou sair de casa.

Hoje, Maria ainda toma uma dose baixa de medicação e mantém a terapia como prioridade absoluta. Aprendeu a delegar, dizer não, estabelecer prioridades. “Toda vez que me vejo tentando abraçar o mundo, eu lembro de tudo o que passei. Não vale a pena”.

O desafio da saúde mental no Brasil

O relato de Maria reflete uma realidade compartilhada por muitos brasileiros. Um estudo da ISMA-BR (International Stress Management Association) revelou que os casos de burnout explodiram durante a pandemia:  32% dos profissionais brasileiros apresentaram sintomas do distúrbio em 2021. No ano passado, o Brasil registrou 472.328 afastamentos do trabalho por transtornos mentais, o maior número em uma década.

Entre as principais barreiras ao cuidado com a saúde mental estão o preconceito, a falta de informação e o medo do julgamento. Maria reconhece: “Eu só contei ao meu líder o que estava acontecendo quando não conseguia mais nem entrar em uma reunião. E fui surpreendida com acolhimento”.   Hoje, sua principal motivação ao compartilhar sua história é poder ajudar outras pessoas. “Meu recado para quem está passando por algum tipo de sofrimento emocional é: Não se isole. Procure ajuda profissional, uma rede de apoio segura. Tem muita gente lá no fim do túnel disposta a ajudar.”

Se você estiver enfrentando sintomas de depressão, burnout ou pensamentos suicidas, procure ajuda especializada. Psicólogos e psiquiatras podem ser aliados importantes nessa jornada de cuidado. Você não está só.

 

* O nome foi alterado para resguardar a privacidade da pessoa entrevistada.

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