Os desafios e caminhos da matriz energética global

Escrito por: Vanessa Falco - 21/07/2025
A matriz energética global vive um momento de transição sem precedentes, em um processo complexo que vai muito além da simples substituição de fontes fósseis por alternativas limpas. O que vemos, na prática, é uma transformação por camadas, na qual múltiplas fontes energéticas coexistem, se complementam e evoluem para garantir segurança, acessibilidade e sustentabilidade em um mundo que demandará ainda mais energia nas próximas décadas.
Nesse cenário, o Brasil se destaca como um player estratégico que combina recursos naturais abundantes, vocação renovável e um histórico de políticas públicas pioneiras. Atualmente, cerca de 88,2% da matriz elétrica brasileira é composta por fontes renováveis, como hidrelétricas, energia solar, eólica, biomassa e biogás, o que nos coloca à frente de potências como Alemanha, Canadá e Estados Unidos. Esse diferencial ganha ainda mais força com a realização da COP30, que será realizada em Belém (PA) em novembro deste ano reforçando o protagonismo brasileiro nas discussões globais sobre clima e energia.
Além dos diferenciais naturais, o Brasil mostra que inovação regulatória e tecnológica pode caminhar juntas para viabilizar a descarbonização. Iniciativas como o Pró-Álcool, o RenovaBio, o Marco Legal do Combustível do Futuro, o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE) e o avanço em soluções de captura e estocagem de carbono (CCS) evidenciam a capacidade do país de criar marcos que estimulem investimentos de longo prazo. Tecnologias emergentes como hidrogênio verde, combustível de aviação sustentável (SAF) e biorrefinarias integradas consolidam essa visão de futuro, associando transição energética, competitividade industrial e geração de novos negócios.
Ao mesmo tempo, o mundo exige pragmatismo. O petróleo e o gás natural permanecem relevantes, especialmente frente ao aumento populacional, à projeção de um consumo energético global que deve crescer até 2050 e aos riscos geopolíticos que impactam diretamente a estabilidade da oferta, como os conflitos recorrentes no Oriente Médio e em outras regiões produtoras.. Nesse contexto, novas tecnologias de eficiência e mitigação, como a Hi-SEP (separação de CO₂ no fundo do poço), a captura direta de carbono (DAC) e o uso de inteligência artificial para otimizar a produção, tornam-se essenciais para equilibrar a demanda por energia com as metas climáticas e as exigências cada vez mais rigorosas de investidores alinhados a critérios ESG.
A Horiens entende que essa convergência entre inovação, expansão energética e transição climática requer um olhar estratégico sobre gestão de riscos e seguros. Cada projeto de energia – seja uma planta solar, um parque eólico, uma operação de CCS ou um complexo bioenergético – traz desafios específicos de engenharia, financiamento e compliance.
Programas customizados de transferência e retenção de riscos garantem não apenas a viabilidade financeira, mas também a resiliência de empreendimentos que precisam alinhar retorno econômico, reputação e impacto positivo.
Acredito que o Brasil tem uma janela única de oportunidades para combinar sua vocação renovável com a capacidade de atrair capital internacional, desenvolver novas cadeias de valor e acelerar soluções de baixo carbono. Mitigar riscos, antecipar tendências e estruturar garantias adequadas é parte essencial desse caminho, impulsionando a transição energética de forma realista, sustentável e integrada aos negócios.
Vanessa Falco é Diretora de Riscos e Seguros na Horiens